“Canjica, doce?? Abacate, doce??” Fiz uma cara incrédula ao descobrir esta novidades aqui no Brasil. Tais achados culinários estavam entre as primeiras coisas que até então tinham sido inimagináveis. Até hoje, o mexicano dentro de mim não se conforma muito bem com esses achados. Embora o abacate pequeno e preto do pacífico, que apenas se encontra agora nos mercado brasileiros nos últimos anos pelo nome em inglês “avocado”, segue o mesmo desprovido de água e doucura, utilizado para a conhecida guacamole ou simplesmente servido na mesa para cortar e agregar a qualquer coisa como se fosse manteiga, inclusive ao pozole: o tradicionalissimo caldo de galhinha chamado pelo mesmo nome do milho branco utilizado para engrossá-lo com sua textura de massa al dente.
Tal vez pela textura de massa que os meus pozoles, versões vegetarianas — claro — foram se transformando em sopas minestrone, italiana, vítima do meu vício de feijões frescos e verdes, como fradinho de corda e borlotti, mas também pela necessidade constante de combinar certos alimentos, como feijão com milho ou arroz, para o corpo produzir as proteínas necessárias.
Com saudades da comida boa de México, a descoberta boa foi a canjica brasileira que é menor e mais massudo ainda. Fica al dente mesmo depois de guardar a sopa — coisa que não é o caso de massinha italiana, feita de farinhas que derretem, farinhas processadas que ando limitando, como muitas pessoas, por questões de saúde.
Como todos os ensopados, o preparo tem etapas, sem muitas regras, podendo acertar o ponto dos sabores e texturas ao gosto, mas seguindo uma certa logica de cozinhar os ingredientes más duros (no caso, a canjica que é melhor deixar de molho toda uma noite antes de ferver-la) e depois os legumes na ordem dos mais aos menos cozidos.
Antes de todo vem a sopa base, o sofrito, alho, cebola e tomates derretidos — DESPACITO!(devagarinho!) — e reduzidos no azeite de oliva e bem temperados, no meu caso, puxando o picante com bastante pimenta calabresa e gengibre, aterrado com cominho e uma folha de louro, e domando o calor com coentro.
Aipo é indispensável em qualquer sopa para pessoas procurando consumir menos sal (pratos diluidos já pedem sal e aipo naturalmente acresenta sódio, diminuindo a quantia de sal você colocaria).
Ao servir o caldo, são colocados os ingredientes não-cozidos, as guarnições colocadas por cima que esquenta com nada mais do que o vapor do caldo. Tradicionalmente, são folhas de coentro, rabanetes, abacates e/ou alfaces picados.
Ou as ervas, nada tradicionais, que fizeram meu pozoles encontrar com Itália. 😉
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