por Ricky Toledano
Se não fosse pela minha experiência toda no Brasil – ou o Brasil que passou na minha vida – eu jamais teria achado tanta graça no comentário do meu irmãozinho indiano, depois daquela pausa para relaxar: “This is India: we have to make adjustments; we have to find the WAYS.”
Eu engasguei e quase cuspi a água que bebia para fora do tuk-tuk.
Embora falado perfeitamente em inglês, ficou desprovido de contexto para entregar a significância sacana desejada. Em híndi, ele tal vez tenha as palavras certas para jogo-de-cintura e jeitinho, mas ficaram diluídas e vagas em inglês.
Só que eu o ouvi perfeitamente bem em português!
Minha gargalhada fez a rapaziada rir mais ainda, enquanto fugimos vitoriosos, mas hilariamente íntimos, já que fomos quarto homens e quatro mochilas dentro dum tuk-tuk, depois de uma negociação cinematográfica para sair de uma furada lindíssima – mais uma – em um país adorável onde as coisas nem sempre dão certo ou não funcionam do jeito que esperamos, onde a informação certa chega de maneira errada, onde você fica atrapalhado, onde planos desabam e aonde costumam chegar os Obstáculos.
Ri de tanto carinho para uma outra terra que conheço bem, um lugar onde também existe a mesma sabedoria de rir da própria desgraça e de todas as criatividades que daí nascem.
“Mas Brasil é assim também, Ricky?” me perguntaram, surpresos. Acharam que a Índia era o único lugar do mundo que as pessoas ficassem tão atrapalhadas.
“Imagina!”
Como foi fácil explicar para os indianos o significado do jeitinho para eles. Eu já suei tentando explicar jogo-de-cintura para povos inflexíveis.
Da muito certo não, mas dá para manobrar.