Yoga no meio de imbróglio político
“IMBECIL!” foi o xingamento que surgiu dentro de mim, embora não-pronunciado, quando resolvi julgar um conhecido meu, quando ele professava que o mundo, de fato, é plano. Afirmava com certeza tão absoluta que segurava o nó da gravata quando explicava que aquele papo de mundo redondo era mito para os mansos.
Achei que era piada. Não acreditei quando a ficha caiu que ele falava sério. Se tivesse humildemente levantado só a dúvida se o mundo era realmente redondo o clima já ia ficar constrangedor, mas era mesmo uma daquelas pessoas folclóricas que realmente resolveram acreditar que o mundo é plano. Tinha ouvido falar deles, mas nunca imaginei que iria presenciar tal fauna em carne viva. A mesa onde sentávamos entre amigos se congelou, e o buraco foi mais embaixo: ele é advogado e utilizou sua arte em um sermão para abrir os olhos dos mansos.
Não o conhecia bem, mas sempre me havia parecido uma pessoa do bem e inteligente. Não podia ter logrado os sucessos pessoais e profissionais na vida sendo um burro. Eu não entendia a necessidade de palanque sobre um tema improdutivo que não era do domínio dele. Que pô é essa? Achei a boçalidade dele uma carência ridícula, só podia querer atenção. E foi daí que começou o processo cavernoso de julgamento na minha mente.
Tentei frear as conclusões na minha cabeça: Eu também quero atenção, todos nós a queremos, pensei. Mas o esforço ficava cada vez mais difícil à medida que se imiscuía com inverdades e pós-fatos para comprovar que o mundo é plano e todos nós fomos enganados. Embora ele não tinha nem como comprovar nada e apenas insistia que o mundo não é redondo, observava os argumentos surgindo na minha mente para contrariá-lo. Estou longe de ser um físico, mas fui rapidamente catando os poucos fatos científicos que lembrava para formar uma lista das muitas coisas de que este soberbo deveria abrir mão para não ser um hipócrita da própria crença. Aquilo me parecia um show ridículo de ego querendo dominar o conhecimento por um convencido, hábil, se deliciando com a autoafirmação de remar contra a maré e levar passageiros com ele. Redobrei-me, então, na iniciativa de não o julgar pela desinteligência: todos os indivíduos são complexos, Ricky, você também tem as suas hipocrisias…
Mas meu próprio esforço de seguir a regra do Mark Twain – de ‘nunca discutir com um idiota porque ele te rebaixa ao nível dele e vence pela experiência’ – foi em vão, já que estávamos entre outros que pulavam para refutá-lo com argumentos melhores e mais detalhados. Infelizmente, não adianta usar argumentos com quem não os possui. Já sabemos muito bem o que acontece com os fatos quando a convicção está reinando: quanto mais repudiava o falso conhecimento dele, falso por ter base nenhuma – nem teoria nem prática que desmente a redondeza do mundo e que tampouco agrega nada, nem sugere uma outra explicação do mundo físico ao nosso redor – mais crescia a teimosia dele sobre um mundo plano. Agarrava-se ao próprio ego como um balão enorme, levando-o para um céu azul, onde ele podia rir dos outros por ser um dos raríssimos inteligentes que enxergam a verdade. Intocável naquela altivez, gritava que a teoria da gravidade era só mais uma teoria – e, como todas as teorias, não era um fato.
Oxalá aquele balão pudesse ter lhe levado tão alto a ponto de ver a curvatura que insistia não existir – ou, diante da crença da não existência da lei de gravidade, até explodir, para ver se ele realmente não caía em lugar nenhum ou em direção reta para ao centro de uma massa grande, esférica.
Não aguentei mais o meu impulso. Tentei medir as palavras o melhor possível, embora meu chocalho de cascavel já estivesse se sacudindo: “Pois é. Só que aquela teoria se comprovou bastante – vamos dizer – útil.” Sorri, “Posso estar enganado, mas acho que não tem nada indicando que essa a tua teoria tenha alguma utilidade. Ou tem?”
Tentei. Mas eu mesmo já estava saboreando o meu próprio veneno delicioso na boca. Acabei guardando o resto, mas o que queria mesmo era injetá-lo: essa sua teoria tem, na verdade, uma única utilidade. É para você ser o certo, sem nenhuma aprendizagem e sem agregar nenhum conhecimento ao mundo.
“Não sei se Copérnico tinha uma utilidade para a crença dele,” me contestou o soberbo.
“Crença?” Falei, incrédulo. “Olha só!”
Testemunhando a manipulação da narrativa, onde agora Ptolomeu, Copérnico, Isaac Newton e todos os detentores de um legado foram colocados como apenas ‘crentes’, com cálculos fictícios que não haviam contribuído em nada para o conhecimento humano, ele conseguiu exatamente o que pretendia: minha raiva.
Não vou dar esse prazer para ele, pensei na desculpa rancorosa para não o agredir, aproveitando um mínimo de autocontrole, um nem-tão-consolidado compromisso com a verdade e a não-violência que é a prática de yoga. Ou, tal vez, foi porque já havia ficado muito claro para mim que não se pode ensinar nada para ninguém através de insulto. Ademais, eu já havia entendido que a mais bela das posturas de yoga é a autocrítica, a busca de autoconhecimento, cuja falta pode transformar até o mais astuto em um boçal, opinando sobre tudo no mundo ao seu redor – até mesmo com perspicácia – mas sem inserir-se naquilo. Acaba respondendo às coisas que não entende.
Silenciosamente, para ninguém ouvir, eu o tinha chamado de ‘imbecil’, só que eu mesmo tinha me ouvido. Estava ferindo-o na mente, com o pensamento. Havia uma necessidade de julgá-lo. Peguei-me em flagrante, exatamente onde se nota o que foge do autocontrole apesar de boas intenções. Verifiquei se essa raiva era das boas, daquelas que vêm para socorrer e dar um limite preciso na hora certa. Não. Aquilo havia sido uma bobagem, tanto dele, quanto minha.
Fiquei remoendo aquela discussão no caminho para casa depois do encontro, até passar por uns mendigos fazendo barracos debaixo de uns toldos de prédios antigos, cinzas e dilapidados, ao lado de outros modernos, imponentes e envidraçados, aparentemente vazios. Aquilo foi um retrato humano de extremos e erros que me fez lembrar de outros debates piores – piores por serem entre íntimos meus, cuja discórdia política sobre a causa e forma da injustiça que eu via na minha frente era violenta. Talvez seja o quadro dos nossos tempos: um time veemente prioriza a liberdade individual e encontra o belo na concorrência, culpando os desafortunados pelas próprias derrotas; outro time arrebatado prioriza a comunidade e encontra o belo na colaboração, defendendo os desditosos como vítimas. Os dois times exasperados pelo descaso público por razões distintas.
E foi justamente naquele caminho para casa e na auto-busca que vi as chamas e brasas de ira pularem de uma discussão infrutífera sobre a redondeza do mundo para uma outra, a princípio não relacionada.
Só que são relacionadas, sim.
Foram achaques que me deixaram contrariado. Meu ego de professor chocou-se contra outros que também queriam ensinar. Apesar de toda a vigilância, a raiva conseguiu vazar pela brecha deixada ao enxergar nitidamente a incongruência entre as palavras e ações nos outros, mas não a minha própria hipocrisia – claro – porque eu simplesmente não faço nada de errado. Depois de analisar e concluir que o meu ponto de visita é o certo, o problema é dos outros que ousam me contrariar – lógico. Foram nestes diversos debates, então, que o mundo como eu o conhecia foi desafiado e meu diagnóstico e receita para os males dele foram rejeitados por outros médicos. Estes, insolentes, inferiram que sou um otário, uma mula.
É dito que a aprendizagem de si próprio só acontece naqueles momentos em que um ego se atrita contra um outro, a fricção incomoda, sendo necessária e descrita como a lógica atrás de toda relação humana. Por isso é também dito que nascemos dentro de famílias de pessoas não escolhidas por nós. Embora família já possa ser suficientemente enlouquecedora para tal aprendizagem, reparei como outros egos diversos e mais duros estavam pulando na frente do meu trem da vida e me descarrilhando até demais nesta encruzilhada política em que vivemos, na qual muitas coisas – inclusive fatos – estão sendo revisados e escolhidos a dedo mais do que nunca.
Impressão minha?
Resolvi navegar no mundo de fora, primeiramente, antes de entrar mar adentro. Li com muita atenção na mais variada imprensa e mídia sobre os debates que me perturbaram tanto ao longo do ano politicamente complicadíssimo nos meus dois países – Brasil e os EUA – para compreender muitas opiniões, inclusive as minhas. Até fiz o exercício de fazer o papel de corno mesmo e investigar como fui “enganado”. Nesta investigação, alguns factoides divergentes dos meus foram interessantes.
Para um destes países, resolvi trocar de time – com um pé atrás e por enquanto –, coisa que se deve fazer com frequência na vida política, já que não é futebol mesmo e não é preciso vestir camisas. A análise me revelou onde fui desatento e com um grande potencial de erro meu, já que tinha firme opinião política baseada em preconceitos – meus e dos outros – e não necessariamente em conhecimento.
(Sim, preconceito! Você também tem isso: O dia contém centenas de decisões e não há tempo para analisar tudo. Às vezes você precisa concluir e andar – e rápido – baseado em intuição e não necessariamente conhecimento.)
No outro país, não tinha como trocar de time mesmo. Buscando alguma coisa qualquer para ceder, a minha pesquisa só conseguia identificar uma concordância sobre certas injustiças para as quais eu talvez pudesse dar mais prioridade para agradar. Só que o plano dos meus opositores para corrigir aquelas iniquidades seguia, nitidamente, ou desconsiderar ou renarrar falaciosamente a causa dessas recriminações – ou seja, não queriam se responsabilizar por nada feito e até queriam levar vantagem. Ora, isso se até tivessem um plano para implementar. Vi muitos daquele outro time sem proposta, ou com uma desproposta, do tipo “o mundo é plano”. Além do mais, acho que foi averiguar como o time oposto não tinha a mesma iniciativa de testar suas opiniões – não enxergava a possibilidade de preconceito próprio – que me fez sentir até mais seguro com minha escolha política. Até reparei num desprezo para conhecimento da parte deles. Então, não encontrei nada revelador que me fizesse trocar de time político.
Foi num momento mais relaxado, lendo sobre outros assuntos internacionais que me interessam, que topei com uma explicação exposta numa matéria do New York Times, na qual a doutor em ciências políticas da Colgate University, Danielle Lupton, definiu o que se chama viés de confirmação: “Na psicologia política, existe o conceito de viés de confirmação, onde você tem uma crença predeterminada sobre um resultado, ou, neste caso, se uma pessoa é bondosa ou malévola.” Os jornalistas desdobram que é este o viés que leva a subconsciência a selecionar informações que apoiam as crenças predeterminadas e a ignorar fatos que afrontam tais crenças. O doutor acrescentou que “o viés de confirmação é tão poderoso que nem sequer percebemos as informações contraditórias – elas passam batidas.”
Achei que esta é uma interessante e chique definição para nada mais do que preconceito, oriunda de uma disciplina que confesso que nem sabia que existia (psicologia política). Refletindo sobre certos comportamentos e opiniões, entrei mar adentro para averiguar o viés em mim, embora já o tivesse achado em uma conclusão política. Lembrei-me das várias vezes na vida pessoal e profissional em que tinha me decepcionado ao confundir gostar ou preferir uma pessoa com confiar na mesma como adequada para resolver um problema.
Mesmo assim, a psicologia política não me ajudou muito a compreender as emoções e tudo que estava acontecendo dentro de mim ao longo de um ano politicamente árduo e resolvi perguntar a outros no caminho lento e sinuoso do autoconhecimento, onde, no mínimo, deve haver um rastreamento dos próprios pensamentos.
Um dia após a palestra farsante do mundo plano, tocou a campainha de casa. Chegou na hora certa a pessoa perfeita para indagar sobre o tema que tanto me perturbou. O amigo e excelente professor de yoga, Gilberto Schulz, fundador de Yoga em Casa, chegou para dar aula. Como minha mente ainda estava brigando com pessoas, tinha que esvaziá-la antes de começar a aula, ou iria perder a viagem. Entrando na sala de yoga da minha casa, resolvi perguntar-lhe.
“Gilberto, alguma vez você se encontrou numa situação na qual uma pessoa com pensamento/opinião muito divergente da sua criou um uma reação em você? Como sua prática de yoga se preparou para aquele momento?”
Sorriu sem olhar para mim, como se confirmando um pensamento parecido, ao agacharmos para sentar no chão, “Sim, algumas vezes, inclusive já aconteceu numa conversa sobre questões políticas com alguém do meio de yoga por quem nutro bastante respeito e admiração. Acho que reagir é natural da condição humana. Lidar com opiniões divergentes, por vezes, mexe em alicerces da nossa identidade, por isso acabamos levando para o lado pessoal e nós pegamos defendendo ideias com tanto apego. Na minha experiência, percebo que a prática de yoga e de meditação ajuda na forma como lidamos com essas situações que nos sacodem, na medida que descobrimos uma base de identidade mais profunda que não se ampara nos nossos gostos e aversões, nem nos pensamentos, opiniões ou nas reações emocionais; isso dá uma margem de manobra, tanto para que possamos rever nossas convicções como para que compreendamos o ponto de vista do outro, ou até mesmo para não dar continuidade a uma conversa que se apresente infrutífera. Particularmente entendo que é bom se colocar diante de visões divergentes, por mais difícil que isso possa ser. Dispor-se a ouvir, entender, se permitindo inclusive mudar a própria opinião, não de forma passiva, mas dando liberdade ao discernimento, sem aprisioná-lo no apego a conceitos e ideias, é uma ótima maneira de colocar nossas convicções à prova, também é uma oportunidade para observar e treinar a forma como nos expressamos ao defendermos um ponto de vista. É nessas horas que verificamos nosso equilíbrio e maturidade; é muito fácil se considerar um iluminado se esquivando dos papéis e das relações envolvidas com o fato de vivermos em sociedade.”
Gostei da resposta, mas eu ainda estava com sede. “Então, se um compromisso com a verdade faz parte de uma vida de yoga, como se comporta diante uma mentira?
Ou um mentiroso, pensei, enquanto Gilberto refletiu em um silencio breve, olhando pela janela antes de responder, “Entendo que o valor da verdade no contexto do yoga e do autoconhecimento é algo pessoal e não dogmático. Dentro de um entendimento busco estabelecer esse valor na minha vida, o foco é basicamente esse. Por ter percorrido todo um processo de assimilação desse valor, o outro lado, no qual a verdade é tratada como uma via de mão única, quando queremos que os outros sejam verdadeiros com a gente, mas não nos importamos tanto em ser verdadeiros com os outros, especialmente, quando alguma vantagem ou desvantagem para a gente está em jogo. Considerando isso, devemos ficar atentos, sabemos que a maioria das pessoas só aprecia a verdade parcialmente e não podemos confundir ingenuidade com pureza. Também entendo que não cabe a alguém que segue o caminho do yoga sentir-se superior de alguma forma se comparando com quem se comporta assim, além de ser uma perda de tempo é uma forma de dispersar a atenção da própria jornada. Talvez a única ação social e política de um yogi nesse sentido seja ser na prática um exemplo de alguém que cumpre seus papéis sem abrir mão da verdade. Nesse ponto, acho importante enfatizar que, a meu ver, o papel de cidadão é tão importante quanto o papel de pai, mãe, filho, filha, empregado, empregador, que, no entanto, costuma ser negligenciado por muitas pessoas, e sobretudo as envolvidas com espiritualidade tendem a se considerar alheias às questões relativas à cidadania, como se fosse possível não atuar ou se posicionar politicamente.”
Então fiquei satisfeito e comecei calmamente a prática de limpar a mente através de respiração e movimentos, embora pensando como eu gostaria de ser uma daquelas pessoas que se sentem alheias às questões políticas. (In)felizmente, acho que há debates que me distraem, um pouco, da minha paz. Talvez seja melhor ficar assim desafiado, no nível certo de incômodo, para aprender a agir – ou não.
Lembro bem no início das primeiras aulas de yoga, muitos anos atrás, quando busquei utilizar a aparente simetria do corpo e logo encontrei uma realidade bem diversa: o lado direito parecia mais encurtado que o esquerdo; o lado direito parece mais duro; uma perna é mais curta do que a outra; descobri que a coluna não é reta, tem uma curvatura que atrapalha; consegui me dobrar para um lado, mas não para o outro; sentia uma dor ao me articular para cá, mas não para acolá. Depois olhei ao redor e reparei nos outros: fulano conseguiu fazer aquilo fácil, mas eu não; eu sou mais forte do que fulano, mas o outro parece feito de borracha de tão flexível; o outro é equilibrado, eu não; não acreditei que uma outra pessoa não conseguia fazer algo tão fácil; achei a professora errada na sequência, deveria ter ensinado melhor. Eu preferiria tanto tomar uma cerveja; que porra estava fazendo ali? Porque não me preparei melhor para a aula? Melhor desistir. E foi por aí, fui vendo toda uma multidão tanto dentro quanto fora de mim.
A receita é paciência e tolerância com tua própria mente o a dos outros. Neste novo ano, vou tentar contemplar melhor essa diversidade exterior quanto interior ao receber – em pessoa ou na mente – essa multidão: os amigos empresários, heróis, porque podiam bem botar o dinheiro deles no banco e ir à praia em vez de aguentar aquelas malas do estado; os outros empresários, vilões, que preferem nesciamente pagar nossos governantes para não fazer o papel deles; os parentes de entes queridos que morreram, na fila do hospital ou porque não conseguiram pagar o remédio; outros falecidos por balas achadas e não perdidas de criminosos; ou eu com meus vinhos e queijos caros quando há lugares onde não mais sequer existe água. Aquelas pessoas certinhas que fizeram, aparentemente, tudo correto e não mexeram com ninguém, seguindo todas as regras, mas se recusam a reconhecer como já se beneficiaram de tanta coisa; os acadêmicos com ideias brilhantes que nunca implementaram nada; outros professores sequer remunerados pelo seu trabalho; aquelas pessoas atrapalhadas pela vida, apesar do todo esforço sincero e honesto; outros, certos por serem bem pagos para nada, ou até para mentir e enganar; ou eu, viajando pelo planeta quando há pessoas sem passagem para trabalhar na cidade onde moro; aqueles sujeitos para os quais a história vale só a partir da data escolhida por eles e que não aceitam faturas precedentes de forma alguma; outros nem um pouco preocupados com a história, já que fazem o que lhes convém da narrativa; aquelas pessoas com saco cheio dessa variedade toda e que querem botar (a sua) ordem na casa a qualquer custo; os opostos que insistem em ajudar os outros de qualquer maneira e também a qualquer custo, sem avaliar a melhor forma de fazê-lo; aqueles que não aguentam as dores do momento e seus sintomas, querendo alívio imediato; os outros recusam os remédios, mas querem a cura imediata; todo mundo credor e ninguém devedor; todo mundo com direitos e não privilégios, ninguém preparado para abrir mão de nada.
Você vai?
Não sei se eu estou preparado não, embora a lógica me diga que tal quadro de problemas políticos, econômicos e socioambientais – e pessoais – dentro do qual estamos emaranhados no momento só pode começar a ser resolvido se todo mundo estiver preparado para abrir mão e reexaminar suas crenças, inclusive essa sensação de injustiça própria que teria que se afrouxar para haver diálogo suficiente, para compreender que ele nasce a partir de um ponto de vista que jamais vai contemplar todos. O raciocínio também me diz que o meu recurso predileto para curar os males não pode servir para todos os casos em todos os tempos. Mas quem diz que a lógica reina quando há emoção? Aquele medo de ser errado, de não conseguir, de ser inadequado, insuficiente, de perder, de não ser, e toda a raiva e tristeza que isso provoca e nos atrapalha à medida que proporciona desafios emocionais necessários para o crescimento.
São esses os desafios de que me lembrarei ao enfrentar mais um ano de vida politicamente árdua, e minha própria iniciativa para aceitar que os outros não vão pensar e agir conforme a maneira que eu acho certa e a felicidade não depende disso. Rastreando os próprios pensamentos e emoções, terei “uma margem de manobra”, como falou Gilberto, ao selecionar melhor os momentos e esforços para alongar o que for possível da Direita dura e a Esquerda encurtada e aceitar os desvios irritantes de corpo que não vão mudar – não só em mim, mas também nos outros.
Até nos imbecis.
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